O que é Pós-Moderno?

É de esquerda, mas... tergiversa quando é classificado como pós-moderno!
(Dez pontos sobre o que é o pós-modernismo e por qual motivo deve ser criticado)
Tem sido comum ver pessoas e seitas influenciadas pelo pós-modernismo fugindo das críticas alegando uma suposta banalização do conceito de "pós-modernismo" ou se ancorando num alegado dogmatismo por parte dos críticos que, dizem, chamariam de "pós-modernismo" qualquer coisa que fugisse da sua "ortodoxia sobre luta de classes" (sic!). Então é necessário não só desmontar esse espantalho como ainda apontar, resumidamente, as principais críticas ao pós-modernismo.
1 - De fato, o termo "pós-modernismo" é amplo por si mesmo, afinal, não designa nem uma escola de pensamento em específico e muito menos um movimento conscientemente organizado (nem há consenso entre seus críticos, mesmo no campo do marxismo). Existem vários autores sob seu guarda-chuva e várias divergências entre estes, além do fato de poucos aceitarem o rótulo de "pós-moderno" (ou, o que é linguisticamente mais preciso, "pós-modernista"). Por isso, de início, vale considerar o pós-modernismo como um "fenômeno", ou seja, algo que se dá a partir de determinadas condições objetivas e que, apesar dos seus agentes reprodutores nem sempre terem consciência do fato de estarem inseridos no mesmo, possui uma série de características que, ligadas entre si, permitem identificar uma manifestação de tal fenômeno e assim classificá-lo.

2 - Mas por qual motivo classificar esse fenômeno como "pós-modernismo"? Bom, basicamente pelo fato de partir de uma premissa cara aos seus primeiros formuladores: a suposta superação do que chamam de "modernidade". Para os pós-modernistas "puro sangue" (ainda que outros tenham usado o termo e a noção de superação sob perspectivas distintas antes e depois), a sociedade "moderna", do capitalismo industrial e baseada nos valores oriundos do iluminismo, teria sofrido profundas mudanças qualitativas e quantitativas que teriam levado a modernidade à superação - logo, viveríamos numa "era pós-moderna". Assim, quando falamos que alguém é "pós-moderno" (e, talvez fosse mais correto chamá-lo de "pós-modernista") estamos falando em algo como "apologista do pós-modernismo", ou seja, de alguém que, conscientemente ou não, abraça a ideia de superação da "modernidade" por essa tal nova sociedade "pós-moderna" e projeta-se politicamente com base nesse princípio. Discordarmos dessa premissa e por isso acusamos a existência da mesma.

3 - Mas seria um problema "nominalista"? Não! Não haveria grandes problemas (seriam problemas, mas não tão grandes) em dizer que as mudanças existentes no capitalismo marcariam uma transição profunda para "novos tempos" ainda que capitalistas. O problema maior é a conclusão derivada: se a sociedade "moderna" estaria superada, os projetos políticos e ideológicos fundamentados na mesma também! Quais seriam esses projetos "modernos"? Basicamente aqueles oriundos do iluminismo, baseados em noções como o uso da razão e da ciência como instrumento de compreensão da realidade, a busca por valores (como liberdade e igualdade) universalmente válidos, entre outros. No campo de "ideologias modernas" supostamente superadas por se basearem numa "modernidade" não mais existente (alegam), estaria o marxismo. Portanto, os pós-modernos (ou pós-modernistas) incorrem num anticomunismo distinto daquele conservador ou reacionário. Para eles a "modernidade" estaria superada. Como se algo tivesse passado da validade. Não seria questão de negar sua edificação em prol de conservar algo antigo, mas de constatar sua superação. 

4 - Apesar das primeiras relinchadas pós-modernistas serem, grosso modo, vistas massivamente nos anos 1960, é com a queda da União Soviética em 1991 que o pós-modernismo tem grande difusão. Segundo os aspirantes a coveiros da História, a queda da URSS teria sido a prova de que os projetos "modernos" estariam superados. A última esperança oriunda do iluminismo, o socialismo, teria uma prova da sua falência.

5 - Assim, a humanidade não teria mais nenhum projeto capaz de ser universal e responsável por unificar as mais diversas demandas sob um programa geral (como a luta de classes contra o capitalismo pelo socialismo fazia ao interligar a questão colonial, negra, de gênero, etc. à luta anticapitalista). Caberia, portanto (segundo os "pós-modernistas"), à cada "minoria" lutar por si mesma de acordo com sua próprias necessidades sem se preocupar com as demais questões. 

6 - O pós-modernismo sustenta, dessa forma, uma espécie de "egoísmo coletivo". Solidariedade com os que compartilham das mesmas opressões que a sua. Sabe esse papo de "não me silencie" ou "não roube meu protagonismo"? Então, apesar de parecer exigir uma solidariedade muito grande não passa de apologia do egoísmo. 

7 - Portanto, é importante notar que o que separa marxistas-leninistas e pós-modernistas não é o apoio ou não às lutas das "minorias". O marxismo luta por "minorias" desde muitas décadas antes do pós-modernismo pensar em existir (e com muito mais resultados concretos). Enquanto liberais como Locke, Montesquieu e até mesmo Stuart Mill justificavam, em maior ou menor escala, a escravidão, Marx foi um grande crítico dessa instituição. Engels, numa das obras mais seminais do marxismo, "A origem da família, da propriedade privada e do Estado", inspirado nos socialistas utópicos, deu papel de destaque à questão da mulher ao notar que na origem da propriedade privada estaria também o "pecado original" que estabelecia o domínio dos homens sobre as mulheres. Um dos grandes mecanismos que permitiu o sucesso do socialismo no século XX foi a capacidade da Internacional Comunista dar resposta à luta dos povos oprimidos contra o neocolonialismo. Graças à postura dos comunistas, era comum que qualquer militante do movimento negro dos EUA fosse chamado de "bolchevique", por exemplo. Apesar da questão LGBT ter recebido tratamento inadequado por parte considerável dos marxistas (inclusive na obra de Engels citada), hoje, países como Cuba, vêm corrigindo essas falhas. Os marxistas sempre lutaram e continuarão a lutar por qualquer bandeira que se mostre justa.

8 - Muitos poderão estar questionando que veem pessoas se dizendo socialistas sendo também atacadas de "pós-modernas". Sobre isso é importante notar o que foi dito no primeiro ponto: pós-modernismo enquanto fenômeno identificado por determinadas características. O Brasil historicamente recebeu e produziu expressões liberais bem conservadoras. A questão LGBT, que pra um liberal europeu pode parecer como obviamente justa (afinal, o que um indivíduo faz da sua vida privada não caberia ao Estado), para um pretenso liberal brasileiro como o sr. Bolsonaro, aparece como aberração. Então, qualquer bandeira progressista que se difunda no nosso país tende à ser relegada à esquerda. Pessoas que defendem essas bandeiras não encontram o menor espaço fora da esquerda e, assim, acabam fazendo uma mistura de ideologias na sua própria cabeça. Acreditam que podem ser socialistas misturando posturas pós-modernistas.

9 - O que permite identificar a manifestação do fenômeno pós-modernista nessas pessoas são outras características típicas do mesmo, que aparecem "originalmente" como fundamentações teóricas e ideológicas que dão sustentação à premissa principal sobre uma suposta superação da modernidade, como: a) negação da ciência (quem nunca ouviu desses que a ciência é "uma invenção da sociedade ocidental patriarcal opressora"? ou, após fundamentar seus argumentos, foi chamado de "academicista"?); b) a contestação sobre a existência de verdades universalmente válidas (sabe essa história de "vivência"? Pois é... é cada um ter a "sua verdade", que não pode ser cientificamente constatada ou refutada enquanto uma "verdade única"); c) o culturalismo, mecanismo excelente de negação da realidade objetiva em prol das questões subjetivas; d) a redução na realidade aos discursos produzidos sobre a mesma (assim, buscam combater a opressão mudando os discursos apagando gênero das palavras com um "X"); e) a diluição de noções de "poder" e "política" (enquanto para o marxismo nenhum dos dois pode ser descolado do conceito de Estado, para pós-modernos, talvez a partir de Foucault e suas ideias sobre "micro-poderes", pautas como empoderamento via turbante e gostar ou não de sexo oral aparecem em detrimento do poder de Estado); f) o já comentado egoísmo coletivo, no qual as lutas contra as opressões sobre "minorias" não são dadas a partir de uma constatação objetiva da realidade concreta julgada por valores universais, mas sim como questões de ordem moral e cultural; e g) o multiculturalismo e a tosca ideia de que um elemento cultural (como um turbante) pertence só a um povo e que se não for assim há "apropriação cultural" (o que tem muito a ver com os já comentados multiculturalismo e negação da universalidade).

10 - Apesar de alegarem que toda crítica ao pós-modernismo parte de um viés conservador ou dogmático, baste usar o Google para constatar o contrário. Grandes nomes das ciências humanas e sociais, brasileiras e internacionais, como Ellen Wood e Ciro Flamarion Cardoso (e outras - em breve, faremos uma postagem só com indicações bibliográficas, já que esse post já tá "textão" demais), possuem vasta obra de críticas que vão dos fundamentos epistemológicos até os movimentos sociais/ seitas pós-modernistas. Logo, combater o pós-modernismo é tarefa de qualquer um que acredite que existe uma realidade objetiva que não só pode ser compreendida através da razão e da ciência, como também modificada a partir dos resultados dessa compreensão. Menos ainda se essa pessoa se disser socialista, afinal, o pós-modernismo é, como foi visto, inerentemente anticomunista nos fundamentos epistemológicos e nas ações propostas.
Com colaborações anônimas ‪#‎shaokahn‬ ‪#‎br‬



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Abaixo um trecho muito interessante de um livro sobre o tema.


O que é Pós-Moderno? (por Jair Ferreira dos Santos)
Um livro muito interessante, ainda mais levando em conta que fora publicado em 1987.
Segue o link direto para sua leitura (resumo, quem puder comprar o livro completo, recomendamos).
“Quando nosso urbanóide, na fabulazinha, se sente irreal, o ego e o mundo surgindo-lhe vagos como um fantasma, é porque ele manipula cada vez mais signos em vez de coisas. Sua sensibilidade é frágil, sua identidade, evanescente. Na pós-modernidade, matéria e espírito se esfumam em imagens, em dígitos num fluxo acelerado. A isso os filósofos estão chamando de desreferencialização do real e dessubstancialização do sujeito, ou seja, o referente (a realidade) se degrada em fantasmagoria e o sujeito (o indivíduo) perde a substância anterior, sente-se vazio.
............ Sublinhamos até aqui palavras que são verdadeiras senhas para invocar o fantasma pósmoderno: chip, saturação, sedução, niilismo, simulacro, hiper-real, digital, desreferencialização, etc. Dificilmente elas serviriam para descrever o mundo de 30 ou 40 anos atrás, o mundo moderno, quando se falava em energia, máquina, produção, proletariado, revolução, sentido, autenticidade. Mas se a pósmodernidade significa mudanças com relação à modernidade, o fato é que não se pode dispensar o aço, a fábrica, o automóvel, a arquitetura funcional, a luz elétrica - conquistas associadas ao modernismo. Assim, no fundo, o pós-modernismo é um fantasma que passeia por castelos modernos.
Mas as relações entre os dois são ambíguas. Há mais diferenças que semelhanças, menos prolongamentos que rupturas. O individualismo atual nasceu com o modernismo, mas o seu exagero narcisista é um acréscimo pós-moderno. Um, filho da civilização industrial, mobilizava as massas para a luta política; o outro, florescente na sociedade pós-industrial, dedica-se à minorias sexuais, raciais, culturais, atuando na micrologia do cotidiano”



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2 comentários

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20 de junho de 2016 às 15:14 delete

Gostaria de ver a publicação com as indicações bibliográficas, pareceram interessantes. Em suma, o texto está bem explicativo. Apesar de eu não concordar 100% com vocês, explicaram muito bem o porquê do termo, que não é compreendido na maioria das vezes quando os ditos "pós-modernistas" são criticados.

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Unknown
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22 de março de 2017 às 08:57 delete

Legal! Vou buscar ler o livro indicado. Ainda não compreendo mto a respeito do conceito pós-moderno...

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